Capítulo 6 - Minha trajetória de insatisfação

Desconstrução


Minha trajetória de insatisfação



"Se você já teve um encontro com a presença manifesta do Eterno, isso irá arruinar a igreja para você. Desse ponto em diante, você irá apenas tolerar a igreja. O que você realmente quer é: ‘Venha, Deus'. Os sermões e as canções centradas no homem irão deixá-lo enjoado. As simulações o deixarão louco. ‘O que vocês tentam fazer?' As pessoas mal conseguem ver o que você está vendo. Elas acham que você está olhando para fora da janela, mas você está procurando o padrão aparecer na vidraça. Vocês nem mesmo estão olhando as mesmas coisas". Tommy Teeney



Paralelamente à libertação e à teshuvah, crescia dentro de mim uma insatisfação com o sistema religioso, principalmente depois de conhecer outros grupos menos tradicionais. Os cultos mais pareciam programas de auditório, com um animador mandando o povo levantar a mão, ficar em pé, pular, gritar, cair no espírito, falar línguas estranhas. E os sermões cada dia mais só pedindo dinheiro e quase nada de ensino da Bíblia. Eu olhava aquilo tudo e achava muito esquisito, mas ficava me sentindo culpada, pensando estar sendo crítica demais, ou que havia algum bloqueio em mim, porque não conseguia fazer parte daquilo tudo. Eu até fazia um esforço para "sentir" aquelas coisas, mas era inútil. E cada dia fui ficando mais insatisfeita, e ao invés de sentar nos últimos bancos como sempre fiz, passei a ficar do lado de fora na hora do "louvor", aquela gritaria me incomodava profundamente.

E cada dia mais pensando que o problema era comigo, que eu era muito razão e pouca emoção, que ainda havia algum pecado escondido. E eu orava, orava, orava e pedia ao Eterno para me revelar o que estava me atrapalhando, o que impedia a minha comunhão, o que me impedia de chorar, de me emocionar. E eu me sentia o pior dos seres humanos.

Mas ao mesmo tempo aquelas coisas todas me pareciam mais esquisitas e eu procurava na Bíblia algo que confirmasse aquilo tudo. E quanto mais eu pensava, observava e orava, mais eu me sentia uma estranha no ninho.

E para piorar a situação, como sempre participei da liderança das instituições que frequentei, cada vez mais eu via coisas erradas nos bastidores: injustiças, desonestidades, jeitinho brasileiro. Via como a salsicha era feita e fui ficando com nojo daquilo tudo. As mesmas pessoas que caíam no espírito, que falavam línguas, que pulavam e gritavam, estavam ali na minha frente, fazendo coisas totalmente contrárias à Torah.

E foi nesse processo que li o livro Igreja orgânica, fiz um curso sobre Evangelho do Reino e depois li o livro Cristianismo pagão. E foi quando descobri que minha melhor amiga estava sentindo a mesma insatisfação, mas até então não havíamos falado sobre isso uma com a outra. E nós duas ganhamos uma outra amiga que tinha as mesmas questões. E então começamos a nos encontrar semanalmente no shopping para conversar, desabafar e falar dessas coisas que estávamos vivendo.

Igreja orgânica traz uma proposta diferente de igreja, de reuniões, apresenta uma forma mais caseira de sistema religioso, bem mais simples do que as instituições que conhecíamos. E fui ficando inquieta e apaixonada por aquela nova proposta.

No curso sobre Evangelho do Reino comecei a perceber que a teologia havia deturpado alguns conceitos bíblicos, e um deles foi a invenção de que as pessoas vão morar no céu. Não existe isso na Bíblia, em lugar algum. Falarei disso mais à frente.

E nesse meio tempo um amigo me enviou Cristianismo pagão por e-mail e disse que era nitroglicerina pura. E foi aí que o processo de desconstrução tomou uma forma muito mais ampla. Fui entendendo que o problema não era comigo, que realmente havia muita coisa errada no sistema religioso e que eu não estava maluca, nem tinha problema de relacionamento, nem tinha bloqueio espiritual ou pecado oculto. O livro só confirmava os meus questionamentos mais íntimos. E foi realmente uma bomba na minha cabeça. Impossível ler e não tomar uma atitude radical depois. E foi o que fizemos, saímos do sistema religioso.

O texto sobre morar no céu não está no livro Cristianismo pagão, mas é um dos exemplos do que temos estudado sobre as teorias que foram consideradas hereges por Constantino e a Igreja Católica, principalmente a partir do século 3. Quase tudo que temos hoje foi estabelecido como lei nessa época e chegou até nós como verdade absoluta. Enfim, fomos descobrir qual é a verdade e começamos a pesquisar e correr atrás disso. Temos lido livros sobre história do cristianismo e vimos que muitas dessas verdades foram consideradas heresias pelos religiosos, que passaram a ensinar as mentiras com peso de lei que eles criaram. O conceito de Trindade é um deles. E no livro Cristianismo Pagão há uma pesquisa histórica gigantesca sobre as origens do que há hoje no sistema religioso. É assustador.

Vi que o negócio é muito mais sério do que imaginávamos. Pessoas morreram nos primeiros séculos, foram consideradas hereges por causa das coisas que estávamos estudando e vivendo. Muita coisa da nossa teologia não é bíblica e praticamente tudo o que vivemos no sistema religioso não está no Novo Testamento.

E mergulhamos fundo na desconstrução dos conceitos e práticas não-bíblicas e saímos em busca da verdade. Paramos de ouvir outras vozes e nos concentramos em ouvir somente o Eterno, sem intermediários. E começamos a ter muitas respostas e muito mais do que pedimos ou pensamos.

Quem quiser saber mais sobre esses assuntos, há uma versão de uns livros de Cristianismo Pagão para baixar de graça na internet.