Capítulo 6.8 - Uma língua enorme e com orelhinhas bem pequenas

Desconstrução - Outros autores


Uma língua enorme e com orelhinhas bem pequenas 
Trechos de Cristianismo pagão?, de Frank Viola e George Barna



Sermão

"O sermão: a vaca mais sagrada do protestantismo – Elimine o sermão, e a liturgia protestante vem a ser nada mais que um show. Elimine o sermão e a frequência dos membros cairá para um dígito.

O sermão é o fundamento da liturgia protestante. Por quinhentos anos, funcionou como um relógio. Toda manhã de domingo, o pastor sobe no púlpito e entrega um discurso inspirador para uma audiência passiva que esquenta os bancos. O sermão é tão central que muitos cristãos vão à igreja por causa dele. Na verdade, todo o culto é julgado pela qualidade do sermão. Pergunte a alguém como foi a igreja no último domingo e provavelmente receberá uma resposta descrevendo a mensagem. Resumindo, o pensamento cristão contemporâneo considera o sermão como sendo a mesma coisa que o culto dominical. Mas isto não acaba aí.

Elimine o sermão e você terá removido a fonte mais importante de alimentação espiritual para um número incontável de crentes (pelo menos é assim que se imagina). E a realidade chocante é que o sermão de hoje não tem raízes nas Escrituras. Mais do que isso, é emprestado, recuperado e adotado da cultura pagã para a fé cristã. Esta é uma afirmação alarmante, não é? Mas existe mais.

O sermão, na verdade, difama o propósito que o Eterno designou à igreja. E isso tem muito pouco a ver com o crescimento espiritual genuíno.

Como o sermão prejudica a igreja – Embora venerado por cinco séculos, o sermão convencional tem contribuído, nas mais variadas formas, para a degradação da igreja. Primeiramente, o sermão faz com que o pregador tenha um desempenho artístico no culto eclesiástico. Como resultado, a participação da congregação fica obstaculizada (na melhor hipótese) e excluída (na pior hipótese). O sermão degenera a igreja um auditório, um grupo de espectadores mudos, presenciando um evento. Não há espaço para interromper ou questionar o pregador, enquanto profere seu discurso. O sermão congela e aprisiona o funcionamento do Corpo do Messias. Promove um sacerdócio dócil ao permitir que os homens do púlpito dominem a reunião da igreja semana após semana.

Em segundo lugar, o sermão estanca o crescimento espiritual. Pelo fato de ser uma ‘mão de uma só via’, encoraja a passividade. Debilita a igreja, enfraquecendo seu funcionamento. Sufoca o ministério mútuo. Abafa a participação aberta. Faz o crescimento espiritual do povo do Eterno declinar.

Em terceiro lugar, o sermão conserva a mentalidade do clero antibíblico. Cria uma dependência patologia e excessiva do clero. O sermão faz do pregador um especialista em religião – o único que tem algo digno e valioso a dizer. Trata todos os demais como cristãos de segunda categoria – esquentadores de banco silenciosos. (Embora isso não expresse o geral, é a realidade).

A liturgia protestante deforma o Corpo do Messias. Torna-se num corpo de uma língua enorme (o pastor) e com orelhinhas bem pequenas (os membros)."


Pastor

"O pastor. A figura fundamental da fé protestante. É tão habitual para as mentes cristãs, que frequentemente é mais conhecido, mais louvado, e mais confiável até que o próprio Jesus Cristo!

Elimine o pastor e a maioria das igrejas protestantes entrará em pânico. Remova o pastor e o protestantismo, como o conhecemos, poderá morrer. O pastor é o ponto dominante, a base e a peça central da igreja contemporânea.

Mas aqui está uma profunda ironia. Não há um só versículo em todo o Novo Testamento que apóie a existência do moderno pastor dos nossos dias! Ele simplesmente nunca existiu na igreja primitiva.

Não há nenhum apoio bíblico para a prática sola pastora (único pastor).

O nascimento do papel do bispo soberano – Até o século 2, a igreja não tinha uma liderança oficial. Lideranças nas igrejas do século 1 eram raras, com certeza. Em relação a isso, a igreja do primeiro século era mesmo uma anomalia. Eram grupos religiosos sem sacerdote, templo ou sacrifício. Os próprios cristãos conduziram a igreja sob o comando direto de Jesus Cristo. Os líderes se desenvolviam naturalmente, sem títulos, e foram reconhecidos mais por seu serviço e maturidade espiritual do que por um título ou ofício.

No final do primeiro século e no início do segundo, presbíteros locais começaram a emergir como ‘sucessores’ residentes para um papel único de liderança desempenhado pelos apóstolos itinerantes. Sem a influência dos trabalhadores itinerantes, que haviam sido treinados pelos apóstolos, a igreja começou a seguir em direção aos padrões organizacionais de sua cultura.

Inácio de Antioquia (35-107 a.C.) foi o instrumento dessa modificação, como a primeira figura da história da igreja a dar o primeiro passo no escorregadio e decadente caminho de atribuição a um líder único na congregação. Inácio elevou um dos anciãos acima dos demais. O ancião ‘promovido’ era agora chamado de ‘o bispo’. Todas as responsabilidades que pertenceram ao colegiado de anciãos eram exercidas pelo bispo.

O bispo, com o tempo, veio a ser o principal administrador e distribuidor das riquezas da igreja. Era o homem responsável pelo ensino da fé e conhecedor sobre o que consistia o Cristianismo. A congregação, outrora ativa, havia se rendido à passividade. O povo de Deus meramente assistia a performance do bispo.

Na realidade, o bispo tornou-se o único pastor da igreja – o profissional do culto em comum. Era visto como porta-voz e o cabeça da congregação. Era aquele que controlava todas as atividades eclesiásticas, mantendo tudo sob controle.”