Capítulo final - Não fiquei magoadinha


Não fiquei magoadinha



Tenho sido "evangelizada" por pessoas do sistema religioso e ouvi mais de uma vez que preciso liberar perdão, tirar a mágoa do coração, e recentemente ouvi que ainda vou voltar para os braços do Pai. Como assim? Dã? Qual a parte dos motivos que eu vivo escrevendo e postando que não entenderam ainda? Será que eu falo grego? (ah, e eu não sei desenhar, lamento). Nem sei porque ainda me dou o trabalho de explicar, mas enfim, alguém pode se identificar, alguém pode finalmente entender, e isso compensa.

Mas então, vou falar de novo.

NÃO saí da igreja institucional porque fiquei magoadinha. Não saí porque o pastor não me visitou na hora da tristeza. Nem porque não fui convidada para almoçar na casa de um líder. Não foi porque fiquei isolada em um canto e ninguém falava comigo. Também não foi porque fui chamada ao gabinete do pastor para levar uma reprimenda ou fui disciplinada e colocada “no banco”. Não saí porque comecei a faltar a alguns cultos e ninguém me procurou para saber o motivo. E de jeito nenhum saí porque não fui convidada para algum evento específico, nem outro motivo que todos conhecemos de pessoas magoadinhas. Nada disso.

Sei que essas coisas realmente acontecem nas igrejas, vi muitos feridos em nome de "Deus", vi isso centenas de vezes e algumas dessas coisas até aconteceram comigo, mas não fiquei magoadinha com ninguém. Sei que isso é por causa do nosso egoísmo e do ativismo que o sistema promove, porque não há comunhão de verdade, eles fingem que existe comunhão, mas não existe. É impossível ter comunhão com 100 ou 500 pessoas, nem muito menos com 1.500. Ninguém consegue interagir com tantas pessoas assim. Todos têm o seu pequeno grupo de afinidade, os amigos mais chegados, isso é totalmente normal. O mais triste é que quando nos dedicamos ao nosso pequeno grupo de amigos mais chegados, o povo do sistema trata logo de dizer que estamos fazendo panelinha. Enfim, o que eles querem é impossível. Eles nem sabem que comunhão significa comer juntos uma refeição completa, conversar, trocar experiências, falar e principalmente ouvir, e fazemos isso com nossos amigos íntimos e familiares. E o que eles chamam de comunhão é um ritual de comer um pedaço minúsculo de pão e beber um cálice de suco de uva juntos, a "Santa" Ceia.

É impossível um pastor visitar pessoalmente todos os enfermos de uma igreja com 300 membros. É impossível um líder dar conta de atender tanta gente carente. Então, não fiquei magoadinha, porque entendia essa dinâmica de igrejas com muitos membros. E nunca fui bajuladora de pastores, nem carente da atenção deles.

EU SAÍ, SIM, e não me arrependo, porque descobri que fazia parte de um engano, e fui em busca da verdade, porque quero seguir somente a Torah (Pentateuco), e o sistema não faz isso e nem aceita quem faz. Saí para não perder a fé. Saí porque não há nada na Bíblia abolindo a Torah, então eu quero obedecer, guardar o sábado, praticar alimentação bíblica (não comer porco, eca!), celebrar somente as festas bíblicas etc. Eu tenho esse direito e quero de todo o coração e ninguém vai me impedir. Isso NÃO É PECADO. Onde está escrito que é pecado? E quem disse também que buscar a perfeição é pecado? Saí da igreja e do sistema por querer santidade e ter sede do sobrenatural, sede do Eterno.

Passei a vida inteira ouvindo que devia ser como os bereanos, que a Bíblia é a única regra de fé e conduta, e que deveria obedecer sola scriptura. Aí quando decido fazer literalmente isso, viro herege. Vai entender! Uma das coisas mais sinistras na desconstrução é perceber que de tanto ouvir uma mentira, ela se tornou verdade, e aí a gente descobre que algumas coisas que podia jurar que estavam na Bíblia, simplesmente não estão, nem em meio versículo, tipo morar no céu e o domingo substituir o sábado.

Por isso, hoje sigo estes lemas: "Meus guias me fornecerão conselhos e contexto. Contudo, não terão a palavra final. A Bíblia é que vai dá-la. Não quero seguir nenhuma tradição em particular com exclusividade. Por mais ingênuo ou equivocado que isso possa parecer, quero descobrir a Bíblia por mim mesmo, ainda que isso implique a necessidade de trilhar por um caminho difícil e tortuoso." Trecho de Um ano bíblico, A.J. Jacobs. E ‎"Encontra nas Escrituras e não dependa da opinião de ninguém." (antigo ditado caraíta). "Aquele que confia em qualquer um dos mestres e professores do exílio sem verificar os textos, é como se tivesse abraçado a idolatria." (ensinaram os sábios, relativo a esse ditado caraíta)

O Eterno nos deu vários animais para alimento, mas proibiu que comêssemos os imundos. E a humanidade prefere comer principalmente os animais impuros. O Eterno nos deu seis dias para trabalhar, mas reservou um para descanso. E a humanidade prefere trabalhar dia e noite, sem parar. O Eterno nos deu várias festas como decreto perpétuo, mas a humanidade prefere rejeitar as festas bíblicas e inventar congressos, passeios, eventos e mais eventos (quanto ativismo!) ou importar festas pagãs. Ou seja, a humanidade continua escolhendo a árvore do conhecimento do bem e do mal.

A falta de parâmetros (Torah) acaba nisso, o que um dia era pecado para os religiosos hoje já não é mais. Eu fico com a Torah, que não muda nunca, é decreto perpétuo e é lâmpada para o meus pés e luz para o meu caminho, ela me indica por onde seguir, só não vou se não quiser.

Sim, eu saí também por causa das coisas erradas que via (e muitos estão vendo), porque vi como a salsicha é feita, e perdi a fé em quase tudo, menos no Eterno, conheço os bastidores de igreja, denominações, rede apostólica etc. E foi o sistema que se desviou do caminho, não eu. Porque a Bíblia ensina uma coisa e o sistema ensina outra. Então estou fora disso. Falo do que conheço profundamente. Não estou "julgando" ninguém, estou falando do que conheço, e para julgar é preciso ouvir os dois lados, e conheço os dois lados, o lado de BEM dentro, e o de fora (ah, a liberdade, amando ser livre das maldições!).

O que eu não entendia e ainda não posso entender é a falta de coerência na vida dos líderes, dizem uma coisa e fazem outra. O que não aceitava é a escolha pessoal de cada líder em obedecer a uns mandamentos e desprezar outros. O que não consigo digerir é a negação completa do sobrenatural e a “desespiritualização” de tudo, pois para eles tudo é natural, tudo é físico, então não sei para que igreja. Seria melhor ir a um clube que assume que é clube ou a um grupo de debates filosóficos.

Cansei de pastores e pregadores contando piadas vulgares e falando de futebol nos púlpitos. Parece que todos estão com a síndrome de apresentador de programa de auditório da TV e testam se o sermão foi bom pelas risadas que o povo dá. Piada para mim é roda dos escarnecedores. Todas falam mal de pessoas especiais ou diferentes. Muitas são mentiras. Outras falam de pecado como se fosse engraçado. Não consigo rir de piadas. Principalmente nos sermões.

Alguns pastores contam mentirinhas no sermão para serem engraçados, como dizer que alguém está fazendo 15 anos quando está fazendo 30, ou quando cita uma situação triste e diz que aquilo não acontece na igreja dele, quando na verdade acontece muito. Enfim, ironia é mentira, não há outro nome.

Os sermões nas cerimônias de casamentos, então, são uma tortura. Além de piadas, ironias, mentiras, ainda dizem vulgaridades, como se não houvesse senhoras e crianças na plateia. Tenho nojo disso, não sei onde escondo meu rosto nessas horas.

Sei que vivem me chamando de herege, mas sair do sistema por entender que pode e deve obedecer à Torah (Pentateuco) NÃO é heresia. Obedecer à Lei NÃO é heresia. A Torah NÃO foi abolida.
Não entendo porque também não é heresia "não adulterar", "não matar", "não furtar", mas insistem em dizer que guardar o sábado é heresia. Não está tudo no mesmo contexto?

Heresia NÃO é cansar de lutar pela mudança de um sistema falido e sair dele. Heresia NÃO é cansar de tanto paganismo e querer mais santidade. Heresia NÃO é querer ser livre para obedecer à Torah e querer viver o que fala.

Mas...

Heresia é escolher uma parte da Torah para obedecer (será que obedecem mesmo?) e desprezar alguns mandamentos.
Heresia é colocar o nome "gospel" nas coisas e achar que elas se tornaram santas: balada "gospel", funk "gospel", namoro "gospel", “arraiá gospel”.
Heresia é fazer festa junina com outro nome – da roça, do milho etc – e achar que não é a mesma coisa. E ainda pintar dente de preto (maldição de doença), usar remendos na roupa (maldição de pobreza) e falar errado (maldição de burrice).
Heresia é reconhecer que há algo errado no sistema, não fazer nada para mudar e ainda amaldiçoar quem cansou de dar murro em ponta de faca.
Heresia é pregar que família é mais importante e ter eventos em finais de semana, feriados, no meio da semana e não deixar tempo para as famílias.
Heresia é ter nas mãos o poder para virar a mesa e não usar porque quer agradar aos "donos" da igreja.
Heresia é ficar em cima do muro e querer agradar a todos, menos ao Eterno.
Errar é humano. Permanecer no erro é heresia.
Heresia é inventar mandamentos que não estão na Bíblia e ignorar muitos que estão. Líderes religiosos têm mania disso, há séculos fazem assim. E o mais triste é o povo que acredita nas mentiras deles. "O povo padece por falta de conhecimento."
Enfim, desde a infância escuto o alerta: “Cuidado, o mundo está entrando nas igrejas”. Pronto, já entrou.
E depois a herege sou eu, porque saí do meio deles?

Sou ex-evangélica e tenho vergonha dos evangélicos. Fico escandalizada com tanto “mundo” dentro das igrejas. E cada dia que ouço as histórias ou presencio situações, mais tenho vontade de vomitar.

Não, eu não fico feliz com as histórias tristes que acontecem dentro do sistema religioso, nem me alegro com os escândalos que chegam ao meu conhecimento, e muito menos com as atitudes dos líderes religiosos diante dessas situações. Não fico feliz, nem comemoro. Mas sinto um alívio muito grande em ter saído de dentro disso e perceber que fiz a escolha certa, só confirma que estou no caminho certo. E não me arrependo um milímetro e não sinto a menor saudade. Amando ser livre.

Parece que na cabeça das pessoas só há duas opções: ou se está na igreja, ou se está no mundo. Mas existe a opção de não estar no sistema e ter intimidade com o Eterno. E essa foi a minha escolha.

Não vou à igreja, mas não sou "mundana", nem "desviada". Não vou à igreja, mas também não vou a bailes gospel e não toco funk gospel nas minhas festas. Não vou à igreja, mas também não faço festas pagãs na minha casa. Não vou à igreja, mas também não uso biquínis na praia, nem vestido tomara-que-caia ou roupas indecentes. Há certos casamentos de pessoas que vão à igreja que mais parecem desfile de revista masculina. Um monte de PIRICRENTES e depois a desviada, mundana e herege sou eu. E ainda postam as fotos no "Faceplayboy" (não vê quem não quer). Reconhece tudo isso? Sim, as pessoas que vão às igrejas fazem isso e mais um pouco. E depois eu é que sou mundana

Ah, e o fato de existir gente "boa" no sistema não salva o sistema podre. E infelizmente a gente "boa" que insiste em ficar dentro é cúmplice dos crimes e pecados do sistema. A sujeira prevalece sobre a limpeza, se há um ponto pequeno de sujeira em um lençol branco as pessoas só vão notar a sujeira (Milton Azevedo).

Se você reconhece que o sistema religioso está errado (todo ele, tudo farinha do mesmo saco), mas não tem coragem de sair, porque continua na ilusão de que vai mudar alguma coisa (murro em ponta de faca), saiba que você é cúmplice dos seus pecados e ainda ajuda a financiar injustiça. Não adianta ficar postando frases apontando os erros do sistema nas redes sociais e não tomar uma atitude corajosa. Pede pra sair.

Se a pessoa quer ficar dentro do sistema, beleza, seja feliz, sorria. Mas não pode ficar ameaçando quem quer pular fora. Esse negócio de ficar ameaçando e amaldiçoando quem não quer mais brincar disso é coisa de sociedade secreta ou de gangue. Há vida fora do sistema e nós não somos "desviados" e não "caímos" e nem somos hereges, só cansamos e pedimos para sair, somos livres e temos esse direito. Acontece que há muitos querendo sair, mas ficam com medo das ameaças e maldições que são lançadas sobre eles e é para esses que escrevo, não para quem está satisfeito e feliz com o sistema.

Eu cansei e estou fora. Mas quem quer brincar disso tem que seguir as regras do jogo, tem que dançar conforme a música. E vou dizer de novo:

NÃO sou evangélica, NÃO tenho religião, NÃO tenho igreja, NÃO tenho líder religioso humano. NÃO sigo cristianismo, judaísmo, muito menos o "paulinismo" dos cristãos (Cristianismo ou paulinismo? PELA graça ou DE graça?). Estou fora do sistema religioso, em completa desconstrução.

Eu sigo somente e tão somente a Torah (Pentateuco). E continuo crendo em YHWH, o Eterno ("Ouça, Israel, YHWH é nosso Pai, YHWH é único!Dt6.4), só não uso os nomes pagãos para falar sobre ele.  

Sim, eu guardo o shabat, sigo Levítico 11 (alimentação) e celebro as festas que o Eterno estabeleceu. Se estiver errada, não perco nada. Mas se estiver certa, quem me condena vai se dar mal.

E de novo repito, se alguém me der MEIO versículo que diz claramente: "O Eterno escreveu com seu dedo: 'Decreto que a partir de hoje a Lei está abolida' ", rasgo a Torah e volto a ser evangélica. Alguém?

Se alguém me der MEIO versículo provando claramente que o Eterno substituiu o sábado pelo domingo, eu dou a mão à palmatória.

Ah, não serve versículo com interpretação-tipo-forçação-de-barra, não. Tem que ser bem explícito, como são os versículos que confirmam que a Lei não foi abolida e que é um decreto perpétuo.

E o desafio continua, até agora só mentem a meu respeito, me chamam de maluca e outros “adjetivos”, mas ninguém me deu MEIO versículo. Vou continuar esperando, sentada.

P.S.: Meu pai dizia uma frase muito sábia sobre alguns religiosos: "Quando sobe no púlpito não devia descer, quando desce não devia subir." Continuo afirmando que NÃO saí do sistema religioso porque fiquei magoadinha com as pessoas dentro do sistema e explico tudo aí em cima, e é verdade mesmo, não foi por decepção com as pessoas, mas saí para buscar a verdade e por rejeitar a mentira que a religião prega. Mas houve, sim, uma decepção com os religiosos, só que foi quando eles desciam de seus "púlpitos", fora do ambiente religioso, quando eles eram apenas participantes da sociedade, como empresários, amigos e familiares. Dentro de seus redutos religiosos esses líderes passam uma imagem de corretos, de íntegros, de sábios, mas fora do sistema, quando são apenas pessoas "comuns", e só quem convive de perto conhece esse lado deles, aí tudo muda. Chefe que inventou motivo para me demitir. Chefe que não falava nem um "bom dia" quando chegava e ainda batia a porta na minha cara, porque a minha mesa ficava virada para a porta da sala dele. Familiares que fizeram fofoca e mentiram sobre mim, e outros que acreditaram nessas mentiras sem nunca terem me procurado para ouvir o meu lado. E agora, com a morte do meu pai, a atitude de muitos familiares é decepcionante. Os religiosos da minha família foram a maior decepção da minha vida, não como líderes religiosos, mas como parentes.

P.S.2: Ah, e se vai orar por mim, tenha coragem e ore direito: peça ao Eterno que ele TE convença se estou CERTA, ou ME convença se estou ERRADA. Não ore para eu voltar aos braços do Pai, porque foi isso que eu fiz quando saí das mentiras do sistema. Não ore para eu voltar para sua igreja ou religião, porque se a sua igreja ou religião não segue a Torah toda, não me serve e está contra o Eterno. Se vai orar, ore certo, para que a verdade venha à tona, para que você e eu encontremos a verdade. Ah, e antes de orar leia este versículo: "Se alguém se recusa a ouvir a lei [Torah], até suas orações serão detestáveis." Pv28.9